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Era um sábado como outro qualquer, pedidos e muita movimentação na cozinha e salão. Uma mesa em especial chama atenção pela algazarra, sorriso solto, família reunida, felicidade total!
Ouvindo tudo, sorrio sozinha da cozinha quando uma fala mansa me faz parar tudo para ir até o balcão. Isabel, a recepcionista do dia, estava com dificuldades em explicar o esquema da casa a uma senhorinha de rosto enrugado. Naquele mesmo dia mais cedo, eu a vi atravessar a rua e depois forçando os olhos para ver que loja era a nossa! ...Ficou uns cinco minutos olhando, olhando, olhando. Tomei a frente e expliquei. A senhorinha custou a entender e me pediu para que eu lesse o cardápio para ela, pois disse que aqueles óculos não estavam ajudando.
Eu muito no sufoco, sem tempo mas com paciência não só li como montei a pizza para ela. Ovo? Mussarela? Peito de peru? Cebola?
- Não, não, cebola não! Palmito tem? Põe palmito. É essa que eu quero, essa aí que você está falando. Sem cebola.
E corri pra cozinha pois os pedidos se acumulavam.
Passada a correria, voltei para o balcão e uma Família se levantou em direção ao pequeno caixa e eu que adoro conversar papeei com gosto. Que delícia! Que felicidade ter essa alegria em um dia de trabalho!
Enfim pagaram, se despediram e de repente o salão ficou vazio e eu ainda rindo limpando as mesas ouço lá de dentro:
-Aquela senhora saiu sem pagar?
Isabel não sabia o que dizer e eu fiquei sem reação. Como assim? Uma velhinha me passou a perna?
Corri pra porta para ver se ainda dava tempo mas a mulher desapareceu.
Em choque preferia acreditar que a velhinha havia esquecido de pagar, mas não me conformei. E o chefe, soltando fogo pelas ventas:
- Vocês estão em duas e não conseguem dar conta de uma velha fujona? Esse salão não é tão grande assim para vocês a perderem de vista. Isso que dá, conversam demais, estão sempre desatentas, sempre rindo e assistindo videozinhos de gatos...isso aqui é um ambiente de trabalho!
Ouvimos tudo arrasadas e sem argumento algum para sequer rebater. Fazer o que: a Senhorinha aproveitou um momento de desatenção e nos fez morrer com 20 reais a menos no caixa. Passaram-se 15 minutos de sermão e continuávamos sem acreditar, quando de repente a porta do banheiro se abre lentamente e a senhorinha sai de lá penteadinha e maquiada. Nos olhamos, eu, Isabel e o Chefe que, incrédulo abriu a boca sem acreditar naquela visão.
Ela se dirigiu ao caixa, naquela velocidade típica de quem não tem mais pressa nessa vida. E se ela ouviu tudo? O que faremos? E agora? Ninguém se moveu ou respirou. A senhorinha então quebrou o silêncio:
- Quanto eu estou devendo? - disse.
- A senhora ficou satisfeita? Perguntei tentando arrancar-lhe mais do que apenas o almoço que acabara de comer.
- O que? - então eu repeti.
-Ah sim, muito boa! Eu com esses óculos não enxergo nada e ainda com essa surdez, se você não falar olhando para mim eu não consigo entender. Eu moro aqui perto.
Será uma brincadeira?! Ela deve ter ouvido tudo e está sendo gentil, quase que agradeço a gentileza e dou a pizza de brinde. Mas ela pagou e seguiu.
Arrependida e morrendo de remorso, enquanto a senhorinha se afastava em direção a rua eu prossegui:
-Senhora, leve o nosso cardápio. Senhora? Senhora? - correndo atrás dela, toquei seu braço com a gentileza de neta e repeti. - Leve nosso cardápio, se a senhora mora aqui perto podemos entregar uma pizza na sua casa quando a senhora quiser.
-Obrigada, minha filha! - me beijou e saiu.
Moral da historia: cheque o banheiro, sempre cheque o banheiro.