O Motor do Renalita
Apenas aos 39 anos dei me conta do quanto os sons afetam nossas vidas.
Havíamos nos mudado para a cidade de Santos/SP, e ao ouvir os apitos dos navios meu coração se enchia de alegria, como se alguém querido fosse chegar.
Vivia feliz!... Afinal, em uma cidade portuária entra navio à toda hora.
... Até o dia em que a minha morena embarcou no Renalita* para fazer dramaturgia na Anhembi/Morumbi em São Paulo!...Não poderia pensar futuro mais brilhante para ela!
Mas, então, porque o coração sangrava com o barulho do motor do Renalita?
Assim foram todas as madrugadas: Eu me levantava, aprontava o café da manhã dela, dava um abraço, voltava deitar mais um pouquinho antes de sair para o trabalho, e a hora que o Renalita partia, partia meu coração...
Escrevi este post em 06/09/2017 pois havia começado a ouvir novamente o motor dos ônibus que avançam a madrugada levando e trazendo trabalhadores desta região onde moro. Sempre durmo como uma pedra, mas havia começado novamente a ouvir estes sons e a sentir o coração apertado. Sabia que esta sensação de perda estava novamente me rondando.
Desta vez não foi o Renalita que levou os meus amores, mas o desejo de viver em um país menos cruel, com menos desigualdades, menos corrupção e mais justiça social.
O caminho também requer muitas lutas mas um coração esperançoso é uma arma poderosa para percorre-lo.
Já não ouço mais o motor do Renalita, mas quando sei que terei que passar na Rua 7 de setembro já sinto nós no estômago e náuseas.
Apenas a esperança da vitória e do encontro com os objetivos pretendidos aliviam meu coração e o enchem de esperança pelos dias melhores e mais felizes.
Afinal, como todos dizem, criamos os filhos para o mundo.
...Só demora um pouco para um coração de mãe aceitar isso!!!!