Pequenos Excertos de uma Grande Tragédia na Educação Brasileira
Melhor dizendo, focaremos na educação do Estado de São Paulo, em nossa microregião, que é o que conhecemos. O Brasil é extenso e, possivelmente, cada Estado tenha suas peculiaridades
As escolas do Estado de São Paulo, dessa microregião metropolitana de Campinas, a maior parte delas vêm se equipando com tecnologias ano a ano, e suas salas de aula possuem equipamentos de mídia para uso em aulas bem diversificadas, laboratórios de informática, laboratórios de ciências. Maravilha, nota mil para esses avanços.
Existe, também, um empenho das equipes de educação em fazer modificações no currículo, (cada vez em intervalos menores) o que, ao que parece, já demonstra que alguma coisa não está correndo bem, ou talvez porque o mundo realmente esteja mudando e a velocidade das mudanças nos obriguem a essa adaptação (prefiro acreditar na segunda hipótese). Contudo, a despeito dessa intencionalidade, cada dia mais nos deparamos em sala de aula com pequenas tragédias silenciosas que essas equipes nem sonham.
A pior de todas elas é que nossos alunos em sua grande maioria, estão saindo do 3º ano do Ensino Médio com grandes dificuldades de leitura, escrita, compreensão de texto, compreensão de códigos e simbologias, falta de foco.
E, tudo se agrava a cada ano, uma vez que não existe por parte de algumas equipes gestoras (claro não são todas, tem equipes gestoras maravilhosas e empenhadas que lutam contra esse e outros estigmas), qualquer pudor e ação para frear essa tragédia, amparadas por uma bendita (? gostaria de poder usar o adjetivo correto) lei da progressão continuada* que permite ao aluno avançar de série sem saber grandes coisas, nem se esforçar para isso. E, as famílias, acreditando ser bom isso para seus filhos, quando existe uma eventual reprova (raríssima), ainda reclamam e entram na justiça algumas vezes para reverter o quadro. Portanto, o problema já é estrutural e, talvez devesse ser remodelado a partir das famílias.
Existem debates contra e a favor, mas, não se vê ações que se originam desses debates, ficando nossos jovens à mercê de que um dia sejam educados adequadamente. Acredito que o debate seja mais profundo que os concernentes à pedagogia pois esbarram na ética e no futuro de nosso país como um todo. Com essa pedagogia fica claro que não há a necessidade de se fazer o menor esforço para alcançar os objetivos educacionais e, é bem provável que levem esse modelo caótico para a vida.
E, se nada disso bastasse, desde o fim da pandemia exacerbou-se o uso inadequado do celular em sala de aula. É algo que está fora de controle pois já não se proíbe o porte dele em sala de aula, e o aluno não possui a mínima maturidade em usá-lo adequadamente, o que, aliás seria extremamente produtivo. Eu mesma gosto de utilizá-lo pedagogicamente. O problema é que, o vício do uso (não tenho outra palavra, pois está fora de controle) não lhes permite ficar mais de 5 minutos sem olhar para o celular... Os professores tentam de tudo. Novas tecnologias de aprendizagem, pedagogias ativas, e, os resultados só mostram que a grande maioria não consegue assistir um vídeo e interpretá-lo.
...Triste, se não fosse trágico!
Mas, felizmente já existem pesquisas internacionais (já que o Brasil não acredita e não dá crédito a seus professores) que comprovam os prejuízos que esse ciclo provoca no aprendizado. Foi lançado na França em 2020 (No Brasil em 2021) o livro "Fábrica de Cretinos Digitais" do neurocientista francês Michel Desmurget, onde através de testes de Quociente de Inteligência (QI) conseguem provar que essa geração, pela primeira vez na história desde que são aplicados estes testes, possuem QI inferior à geração anterior. Entre outras coisas ele atribui o fato ao uso excessivo dos celulares e culpa pais e professores pela permissividade a essa exposição. Segundo ele, países como China e Coréia já tomam suas providências para conter esse surto e tentar reverter esse quadro enquanto ainda é tempo, para que não presenciemos os prognósticos catastróficos de Aldous Huxley, lá em 1954, quando escreveu seu icônico livro "Admirável Mundo Novo". Segundo Desmurget, a continuar assim, haverá:
Um aumento das desigualdades sociais e uma divisão progressiva da nossa sociedade entre uma minoria de crianças preservadas desta "orgia digital" — os chamados alfas do livro de Huxley —, que possuirão, através da cultura e da linguagem, todas as ferramentas necessárias para pensar e refletir sobre o mundo, e uma maioria de crianças com ferramentas cognitivas e culturais limitadas — os chamados gamas na mesma obra —, incapazes de compreender o mundo e agir como cidadãos cultos. (citado em BBC News).
A Lei do Estado de São Paulo, 12.730 de 11 de outubro de 2007, previa em seu art. 1º a proibição do uso do celular em sala de aula. Em 06.11.2017, através da Lei 16.567, o Sr. Governador Geraldo Alkmin alterou o tal artigo para: “Artigo 1º - Ficam os alunos proibidos de utilizar telefone celular nos estabelecimentos de ensino do Estado, durante o horário das aulas, ressalvado o uso para finalidades pedagógicas.” Embora permaneça a proibição parece que os gestores não entendem dessa forma, e não tomam providências a respeito, o que dificulta qualquer ação por parte do professor que, para não fazer o papel da palmatória do mundo numa luta solitária, deixa como está.
Para complementar o assunto sugiro a leitura das e-references. A da BBC consta uma entrevista com o autor do livro Michel Desmurget, e a segunda refere-se a um ocorrido em 2011 numa escola, onde a professora foi agredida pelo aluno ao tomar-lhe o celular, fato que hoje, 13 anos depois nem se pensa, pois, muito provavelmente o professor será linxado da sala de aula e não terá apoio da direção.
E-Reference
Crédito da Foto: http://eedeputadogregoriobezerra.blogspot.com/2011/10/artigo-sobre-violencia-nas-escolas-o.html
*Lei da Progressão Continuada: